quinta-feira, 7 de outubro de 2010

2. ♫ De quem será... De quem será ?♫

Dois cidadãos roubaram algumas bicicletas. Nós prendemos e os conduzimos até o quartel, perfazendo um percurso de seis quilômetros no total. No trajeto, tivemos aquela velha e amigável conversa (tudo conforme preconiza os direitos humanos) para que lembrassem onde tinham deixado as peças que haviam retirado das bikes, ambos tinham esquecido onde colocaram.
Até aí tudo normal e perfeitamente compreensível. Em um mundo essencialmente capitalista como o contemporâneo, em meio ao caos urbano-social, frente à brusca baixa do dólar e a queda das ações da Bovespa, não era de se estranhar que aqueles rapazes, residentes de um povoado de trinta habitantes e com o segundo ano do primário já completo, esquecessem onde guardara seus pertences, quanto mais os do outros.
            Repentinamente, sem pedir licença, no meio da conversa, um odor característico e nada agradável elevou-se e ocupou todo o interior da viatura. A conversa cessou, os rostos se enrugaram, o clima ficou pesado.
Para termos absoluta certeza e não caluniar ninguém, aguardamos um pouco com o objetivo de confirmar se aquilo era realmente verdadeiro. Para infelicidade de todos e tristeza geral da nação era real, podem acreditar, era muito real mesmo, meu nariz que o diga.
De maneira despistada deixei a caneta cair, abaixei e verifiquei debaixo do coturno, não havia nada de comprometedor ali. Sorrateiramente o Sargento olhou para mim - ele sentiu primeiro. Eu olhei para ele - senti depois. Pensei em fazer uma acusação aos já acusados, desta vez, de um crime diferente, crime ambiental: poluição atmosférica. Imaginei, então que seria um tanto quanto desumano atribuir um cheiro daquele a um ser humano ainda vivo.
Sem querer fazer falsas, ou pelo ao menos supostamente, falsas acusações contra o colega de farda, o Sargento, que era bem mais experiente que eu, até mesmo nesses assuntos, teve a salvadora iniciativa de indagar os meliantes:
_ Qual dos dois fez isto?
_ Isso o quê?
_ Borrou o banco da viatura.
_ Foi eu não! – O outro também respondeu:
_ Nem eu.
_ Vocês estão falando que fui eu então? – Perguntou bravo o sargento.
Em coro:
_ Não seu Sargenti.
Demorou, mas percebi que a culpa estava recaindo sobre alguém e que esse alguém era eu. Fui obrigado a defender-me.
_ Olha só “nêgo véio”, lá no quartel tem uma máquina que descobre de quem e de onde saiu isso. Fala logo! Deixa a gente descobrir não que é pior para vocês.
_ Juro por minha vó que não fiz isto.
_ Juro pela mamãe, foi eu também não, Predera.
Por colocarem com inabalável convicção a avó e a senhora sua mãe no meio do rolo, acreditei neles. O fato de não temerem a minha suposta máquina detectora de gases aumentou ainda mais a credibilidade nos dois. Pensei um pouco e cheguei a triste conclusão de que não tinha sido os meliantes e eu tenho pleno controle sobre meu corpo, logo, eu também não tinha sido.
Não quero acusar, longe disso, mas até hoje não engulo aquela história de que a cara feia feita pelo Sargento, segundos antes da proeza mal cheirosa, foi por conta de um dente dolorido.

3 comentários:

  1. Fala cara... blz? eu vi seu comentário no meu blog. Eu acho muito legal o que está escrevendo, da continuidade dos fatos... muito bom mesmo... vc pensa em atualizar de quanto em quanto tempo?
    Abraços

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  2. tenente vasco. ola colega gostei muito das suas historias profissionais, futuramente poosso lhe contar algumas quue ja ocorrera comigo, por meio do seu proprio blog neste postar, ou via email ou outra forma. estarei sempre acessando o seu blog . Parabens.

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  3. hahaha e como dizer que foi o superior? rsrsr

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