sexta-feira, 15 de outubro de 2010

17. Bin Laden


Bin Laden

O coronel, comandante regional, liga ainda bem cedo e pede que providenciemos, em caráter de urgência, uma lista com o nome de todos que fossem suspeitos de possuírem, clandestinamente, arma de fogo no interior de suas residências. Tínhamos alguns nomes, mas não o suficiente para o coronel não pensar que estávamos trabalhando, menos do que se espera, para um efetivo de dois militares, numa cidade.
 A lista saiu, mau feita, mas saiu. Continha onze nomes, dez dos quais, listado de maneira incerta, baseados unicamente em denúncias anônimas.
Enviamos a lista e, poucas horas depois, estacionou em frente ao quartel, um sem número de viaturas.
Eu nunca tinha visto tantos policiais juntos, o povo da cidadezinha muito menos. Todos ficaram boquiabertos tamanha era a quantidade de armas, carros e militares ali reunidos.
Se aquele aparato todo deslocado para a cidade, que exigiu um gasto enorme para o estado e um desgaste muito grande para a tropa, não apreendesse uma quantidade razoável de armas da lista que improvisamos o coronel, no mínimo, no minimo, arrancaria meu o pescoço.
Por sorte a operação estava dando resultado: a cada duas casas averiguadas, encontrávamos pelo menos um ‘pau de fogo’.  
Naquela lista havia um nome familiar, porém incomum em termos nacionais: “Bin Laden”. Eu tinha ouvido falar que um senhor, o qual residia num povoado a alguns quilômetros, teria comprado uma arma de fogo ilegal, só que, como o coronel pediu-me a lista muito rapidamente, não consegui lembrar o nome do possuidor da suposta arma, por isso, recorri a sua aparência física para rebatizá-lo e taquei “Bin laden” na lista. O ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos acabara de ocorrer e eu não pude deixar de notar a semelhança do mentor do ataque com aquele que procuraríamos. Era o único meio que dispunha para identificá-lo.
Todos que leram à lista riram do nome e riram mais ainda quando conseguiram prender o Juarez, recém nomeado de ‘Bin Laden’. Todos notaram que ele realmente era bastante parecido com o saudita terrorista.
A conversa dos militares com o preso fluiu normalmente do local da prisão até o quartel, apesar das curtas e ríspidas respostas que o Juarez dava.
A operação policial transcorreu, apesar da minha descrença inicial, com relativa margem de sucesso. Foram seis presos e sete armas de fogo apreendidas.
Finalizado o serviço todos os militares, todas as viaturas e todos os armamentos se foram e como sempre deixaram para trás: eu, o outro PM e o ódio de toda uma cidade. A população julgava ter sido nós os Judas que entregaram os coitadinhos que não tinham roubado, nem matado (dois únicos crimes existentes no código penal local).
Três dias após as prisões os primeiros já haviam sido soltos, e quem nos procurou tão logo minutos após alcançar a liberdade? É, ele mesmo, o “Bin laden”.
Quase que eu não o reconheço, provavelmente os companheiros de cela obrigaram-no a passar pelo barbeiro forçadamente. Pelo ciúme que se dizia ter por aquela barba, pouco provável que ele havia retirado-a de vontade própria.
Eu, besta que não sou, preparei para o pior. O que mais um ex-detento podia querer comigo além de vingança. O ódio que saltava por seus olhos, foi expresso em suas poucas palavras:
_ Você que preencheu meu BO, não foi?
_ Foi eu sim, por quê?
Nesta hora, a tendência é do que tem menos medo colocar o outro pra correr.
_ Eu quero falar uma negócio com você soldado!
Saquei o bastão de madeira, coloquei ao lado da perna arma e fiquei com ele a ponto de bala, em baixo da mesa, (só o bastão em baixo da mesa, eu não, para não deixar dúvidas!). Se ele tentasse algo eu conseguiria reagir. Um dos poucos pensamentos que passavam por minha cabeça era: “Agora que este miserável me mata”.
            Ele continuou:
          _ Ter ficado preso, terem raspado minha barba, gastar um monte com fiança e advogado até que vai, agora, eu quero saber quem me colocou este apelido de “Bin Landen”?
          O curioso foi que o ex-detento não ficou chateado com a prisão e sim com o carinhoso apelido que a ele foi atribuído. Percebi que a sua atitude, apesar de nada amistosa, não era tão agressiva quanto eu imaginava, então conclui:
            _Tudo bem seu Juarez prometo que vou identificar quem o chamou e repreender quem chamá-lo de “Bin Laden”. “Bin Laden” não é nome que se preze para chamar uma pessoa como o senhor. Pode deixar daqui para frente ninguém mais o chamará de “Bin Laden”, pois “Bin laden” é um terrorista, "Bin Laden" foi um covarde, Bin Laden foi desumano...
           Antes mesmo de eu terminar sua defesa o “Bin Laden” opa! Quer dizer... seu Juarez pôs-se para fora do quartel e até ontem não o vi.    


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