sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

22. Chão molhado

Quer me deixar nervoso, bata numa mulher. Aquele sujeito havia esquentado a orelha de sua irmã, em menos de uma semana, umas cinco vezes, isso não poderia ficar daquele jeito.

Partimos com olhos flamejantes a procura do valentão.

Paramos a viatura um pouco antes da porta da casa dele, chegamos de supetão; no que ele nos viu levantou-se da cadeira; quebrou um casco na mesa; segurou firme o gargalo e nos perguntou com o caco na mão:

_ Quem vai ser o primeiro?

O ato de bater em sua irmã, que nem parente nossa era, já nos deixara fulos da vida, imagine agora que ele ameaçou nos cortar.

Um dos PMs um pouco mais afoito e cego pela raiva correu em direção do quebrador de garrafas, ao mesmo tempo em que ele veio em nossa direção com o gargalo em punho.

Uma chuva fina havia caído minutos antes de nossa chegada àquele local. O solo era de terra bastante dura que molhado, tornou-se muito escorregadio.

Estávamos correndo de encontro ao sujeito e ele em nossa direção. Íamos colidir de frente não fosse a providencial ação daquela babinha de quiabo que se forma misturando chão de terra batida e água. O militar que estava a frente, naquela correria toda, levantou a perna direita intentando acertar um chute contra o peito do sujeito, só que por conta da chuva fina, aliada a terra dura, o solo escorregadio não permitiu que sua perna esquerda o firmasse em pé, de modo a impedir o escorregão que tomou. Caiu de costas e, embalado pela correiria, saiu escorregando até parar debaixo do criminoso, só não saiu do outro lado porque quando viu que ia passando adiante, segurou nas canelas do meliante. Por providência do destino, o sujeito resolveu não usar o gargalo da garrafa, ficou apenas paralizado, olhando para baixo e vendo no meio de suas pernas o cidadão segurando em suas canelas secas, tentando se equilibrar nos calcanhares para se levantar.

Eu, ali do lado cheguei junto e algemei o sujeito. Fiz muita força, mais muita força mesmo pra segurar, mas não agüentei e ri, tive de ri, meu colega levantou tão rápido quanto caíra, olhou nos olhos do preso e disse:

_ Agora você estar ferrado!

O preso, com aquela cara de surpresa, disse:

_ O quê que eu fiz. Você caiu sozinho!

_ Não quero nem saber. Lá no calabouço nos vamos conversar.

Eu consegui segurar o riso, mas quem é que segura o povo. Êta, povo covarde para rir dos outros. Havia uns dez curiosos por ali e todos cairam na gargalhada com a queda do PM. Ele, quando se levantou, limpou a retaguarda da calça com as duas mãos, blasfemou a todos que ali estavam e amaldiçoou em voz alta até a quinta geração do preso.

Um comentário:

Comente esse caso!