Três horas da manhã, cidadão ofegante e só de shorts acorda desesperadamente o comandante do destacamento: “Sargento, Sargento! Tem um homem roubando lá em casa”. O graduado levantou da cama e dirigiu-se ao local da ocorrência. Pelo caminho escutou parte da história. Assim dizia a suposta vítima:
__ Eu estava dormindo com a mulher, quando de repente acordei e vi uma pessoa no quintal de casa, levantei corri atrás dele; ele fugiu; voltou mais tarde, corri atrás dele de novo; fugiu novamente; aí vim aqui chamar o senhor.
O militar desconfiou do relato. O que, de tão importante, havia naquele casebre para o ladrão, após "levar uma carreira" do dono da casa, voltar minutos mais tarde. Embora suspeitoso continuou o rastreamento até encontrar o ladrão. Ele estava dormindo, de cuecas, no quintal da casa de uma irmã. Irmã de pai e mãe mesmo, não irmã de caridade, não.
Retornando ao local da ocorrência encontraram as roupas do infrator e, junto a elas, sua arma. Arma esta que foi, de imediato, apreendida. Não era uma arma pesada, era de baixo calibre na verdade, porém de veras habilitada para causar dano. Tratava-se de um estilingue, marca ‘de pau’, modelo ‘triângulo invertido’, com onze munições tipo 'brita'.
O meliante foi conduzido para prestar maiores esclarecimentos. Neste ínterim, a vítima tentou dá uma de investigador e ao questionar o, até então, "ladrão", alguns detalhes, importantes para o inquérito policial, surgiram.
__ Seu filho de uma rap.......(piii). Me diga o que você estava caçando lá em casa, só de cueca, de noite, na chuva. Você estava querendo me matar era? Fala Bandido!
__ Não era nada não cara. - Respondeu cabisbaixo o meliante.
__ Era roubar laranja?! __ Não tem pé de laranja no seu quintal, cara.
__ Meu DVD. Era meu aparelho de DVD que você queria roubar?
__ Tem DVD em sua casa não.
__ Seu miserável! Você tá conhecendo minha casa melhor do que eu!
Aí o negócio ficou um tanto quanto particular, e constrangedor. A partir daquele diálogo ficou praticamente impossível acreditar na versão de furto. É bom lembrar que a mulher do ofendido não era o que se pode chamar de uma senhora das mais recatadas. De acordo com as más línguas, não poucas vezes, ela já havia ornamentado o couro cabeludo do marido. Mas isto é apenas um irrelevante pormenor que nada tem nada a ver com o caso em questão, lembrei agora, nem sei bem o por quê.
No começo de tudo o sargento até pensou que se tratava mesmo de um crime contra o patrimônio, mas de cuecas? Há é lá no quintal também não tinha pés de laranja, nem DVD na sala, havia me esquecido desses detalhes. É que eu, diferetemente do meliante, também não conhecia bem aquela casa.
Para não agravar a situação e tentando entender melhor o que havia de fato ocorrido o sargento separou a vítima do "furto", do saltadorzinho de muro e teve uma conversa de homem para ricardão:
__ O que você estava fazendo lá na casa do homem rapaz, à noite, de cuecas?
__ Ó seu puliça vou contar a verdade, o negócio é o seguinte, não é a primeira vez que eu ....
No final da conversa as suspeitas se dissiparam e a verdade, que já suspeitava profundamente, veio à tona. Todavia, não pretendo penetrar em detalhes passionais do caso.
Sem a mínima intenção de levantar infundadas suspeitas deixo uma pergunta para os incrédulos. O que um cidadão vai fazer na casa do outro, de madrugada, só com as roupas de baixo, bem no dia em que o dono da residência costuma viajar e deixar sua esposa a mercê da própria sorte. Roubar? Furtar? É, até pode ser, não tem gente que acredita em Papai Noel e coelhinho da páscoa?
O mais intrigante de toda essa história é que ela é constituída, em sua totalidade, de fatos verdadeiros. E o mais decepcionante disso tudo é que, ainda hoje, o mais prejudicado nessa história toda, coça a cabeça e se pergunta: O quê esse cara queria roubar lá em casa?
Sei lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente esse caso!