terça-feira, 8 de março de 2011

15. O apelido

       O rapaz estava nervoso, muito nervoso mesmo, mal conseguia articular as palavras. Era um rapaz da zona rural, aparentava ter um leve distúrbio psicológico. Ele se queixava que alguns moradores do povoado do qual era oriundo, estava apelidando-o.
       O cabo que primeiro o recebeu no quartel, com muita dificuldade, conseguia entender o que ele dizia, tal era o estado de ansiedade do rapaz. Estava anormalmente transtornado com seus vizinhos:
       _Eu vou matar eles tudo, se eles me chamar de apelido eu mato, vou matar mesmo, se vocês quiser pode mim prender, mas se me chamar de apelido de novo eu arranco o pescoço de um por um.
       _Calma rapaz que isso? Nós vamos resolver seu problema.
       Um pouco mais calmo o jovem contou que após ter ido para uma festa acompanhado de seus amigos, todos tomaram muita cerveja, no retorno para casa resolveram aliviar a bexiga num pé de umbu, daí para cá começaram a chamá-lo de...
       Ele só contava até esta parte e parava, não dizia qual era o apelido. O militar insistia:
       _Te chamavam de quê?
       _ É um nome muito feio.
       _Qual é o nome?
       _É palavrão!
       _Meu amigo, se você não disser fica impossível de registrar a ocorrência.
       O militar insistentemente perguntava qual era o apelido. O registro da ocorrência já não era o mais importante, a firme negativa do rapaz aguçou a curiosidade do militar de tal forma que queria saber de qualquer modo qual era o nome que os amigos da vítima colocaram nele.
       _Fala rapaz!
       _Deixa quieto. Pode deixar que eu resolvo. Vou embora.
       _Não! Agora você tem que falar de qualquer jeito!
       Os sentimentos se inverteram e o militar já estava mais nervoso que o garoto. O PM agarrou o braço do rapaz e sacudindo bem forte, ordenava:
       _ Fala rapaz, anda, fala logo, fala! Qual é o apelido?
       A curiosidade do militar era muita e deixou o jovem assustado, por isso o rapaz deu um puxão no braço, desvencilhou se do agarrão cabo e saiu correndo para fora do quartel. Lá do meio da rua, verificando que o PM não o seguiu, gritou bem alto:
       _ O apelido é “pinto de passarinho” filho duma égua! - E desapareceu.

Um comentário:

  1. O causo, em si, não é uma piada para se dar gargalhadas. Mas é interessante o leitor (principalmente o policial) tentar se colocar no cenário narrado pelo autor. É, sim, divertido!

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