terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

13. Banheiro Portátil

Quando chegamos ao local do ocorrido, deparamos com o cidadão como numa cena de filme do Rambo: com uma peixeira na mão e um facão na outra, urrava como se estivesse possesso por um espírito de porco do mato. No momento em que a viatura se aproximou, o espírito abandonou aquele corpo, levando consigo a valentia do fulano, e o que se viu foi um facão voar para um lado da rua e a faca para o outro.
A abordagem foi vigorosa. Diante da tentativa frustrada de fuga, nos o agarramos firmemente e o colocamos de bruços em cima do capô da viatura para procedermos à uma busca pessoal. Ao correr as mãos pelas vestes do valentão, aprontamos uma frenética lista de questionamentos que o desorientou:
_ Quer ir para cadeia?
_ Para que você quer isso (referindo as armas)?
_ Era para matar alguém?
_ Tem mais armas aí?
Antes de responder uma, já lançávamos outra pergunta no intuito de dispersar seus pensamentos. Toda a ação, contando da abordagem, mais a desabalada “perguntação” e a busca pessoal, não durou mais que trinta segundos, foi tudo muito rápido. Esta era a intenção, evitar que ele tivesse oportunidade de pensar em tentar reagir. Porém, mesmo neste curto espaço de tempo, o inesperado pôde ocorrer.
O militar que procedia a busca - que no caso não era eu - passou, repentinamente das perguntas  para o esbravejo. Sem motivo aparente algum, começou a ser rude com o abordado, proferindo-lhe palavras asperas. O outro militar que fazia a segurança (este sim era eu) nada entendia. O que haveria levado o colega ter uma mudança tão brusca de comportamento. Passar do vigoroso para o rude num nervossismo nunca antes visto. Essa dúvida levou o que estava na segurança a questionar o colega:
_ Que foi? Tá ficando doido?
O militar exaltado, sem saber se respondeia ou continuava a xingar, ergueu o braço com a mão espalmada e dedos abertos em direção ao colega e enquanto segurava o abordado pelo colarinho disse:
            _ Esse cara urinou na minha mão.
            Uma frase um tanto quanto esquisita de se ouvir, principalmente, para quem não está por dentro da situação. Imagine você, dentro de sua casa; assistindo o programa Silvio Santos e ouve lá da rua: “Ele mijou em minha mão”. Certamente não pensaria que o fato aconteceu em decorrência de uma busca pessoal, em que o policial se ver obrigado a correr a mão nas vestes do suspeito, até mesmo, em locais bem próximos a partes muito íntimas do corpo. É o famoso osso do ofício.
Mas não pensem que ele tocou onde estão vislumbrando. Apalpou a parte interna da coxa; é que o líquido, seguindo a escalada do medo que o homem sentia, era tão abundante que escorreu perna abaixo.
O militar menos prejudicado nesta história (no caso, eu) por mais que tentasse não conseguia parar de rir, foi o dueto mais estranho e sem sinfonia já visto: um maldizendo e o outro rindo.
O mais prejudicado arrumou um saco plástico velho no chão, forrou o banco da viatura, enfiou o preso lá dentro, colocou cento e vinte na estradinha de terra e só parou na delegacia. Lá,  com semblante sério, disse ao delegado: _ Doutor, deixa esse cara preso aí pra nós no mínimo uns oitenta anos! Tem jeito?
O delegado sorriu, entrou para sala dele com o autor e, de lá de dentro, só se ouvia altas gargalhadas. Sei não, me parece que o camarada não se contentou apenas em urinar na mão do polícia e teve, além de tudo, que espalhar o caso para todo mundo. Ainda bem que depois de solto, com bem menos de oitenta anos por sinal, mudou-se para outra cidade, pois o polícia queria vingança. Não sei se ia urinar na mão do ex-preso, mas que ele queria vingar ah, isso ele queria com todas suas forças.
Foi um dia para se apagar da memória, inclusive peço para que quando terminarem de ler este texto, arranque esta página, embebeda-a em álcool e ponha fogo, para que não exista nenhum registro acerca do fato. É que ele me pediu segredo e eu, fiel que sou, estou cumprindo com o prometido.

Um comentário:

  1. aaah claro, imagine se nao fosse fiel amigo kkkkkk...
    bom que voces trabalham e se divertem ...rs

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